Ano B – I Domingo do Advento

1ª Leitura: Is 63, 16b-17. 19b; 64, 2b-7;
Salmo: Sl 79, 2ac e 3b. 15-16. 18-19;
2ª Leitura: 1 Cor 1, 3-9;
Evangelho: Mc 13, 33-37.

 


Abre o tempo de Advento, e com ele o novo Ano Litúrgico, a bela oração que escutávamos na primeira leitura deste Domingo: “Nosso Pai e nosso Redentor … Oh se rasgásseis os céus e descêsseis”. Oração esta que pede a vinda do Senhor até a história humana, marcada pelo pecado e pela infelicidade.

Estamos no pós-exílio. O povo exilado já regressou à sua pátria e já se iniciaram as obras de reconstrução de Jerusalém. No entanto, tal reconstrução é lenta e difícil. Tal facto desanima e retira a esperança do povo e provoca o descuido e a indiferença do povo para com Deus, a aliança e o culto. Ante as dificuldades, o povo desanimado esquece-se de Deus e abandona os seus caminhos. É neste contexto que aparece o profeta com uma mensagem de esperança e de conversão. Mensagem de esperança, porque anuncia a vida plena e a salvação definitiva que Deus há-de conceder ao seu povo. Mensagem de conversão, porque o povo deve converter-se à aliança contraída com Deus. Exemplo concreto de pedido de salvação e, consequente, pedido de perdão, porque a desgraça é vista como uma consequência dos pecados do Povo, é a primeira leitura deste domingo.

Começa esta leitura com a invocação de Deus como Pai e Salvador. Com tal invocação, o profeta mostra o papel que Deus tem na protecção, defesa e salvação do seu povo. O profeta pede a Deus que não deixe o povo a continuar a pecar e a afastar o seu coração de Deus. Pede que Deus desça dos céus e venha ao encontro do povo, que mostre ao povo os maus caminhos que está a seguir. Pede a Deus que visite o seu povo e converta o coração do povo. Pede que Deus, como oleiro, modele o barro da humanidade. Se nos recordarmos que, em Gn 2, 7, a criação do homem é descrita através da imagem de Deus que modela do barro da terra o homem e lhe dá o seu Espírito, podemos dizer que o profeta, nesta oração, pede a Deus uma nova criação.

O Tempo de Advento é um tempo de preparação da vinda do Senhor. De uma forma imediata, e ao preceder o Tempo de Natal, o Tempo de Advento mostra-nos como o nascimento de Jesus, do Emanuel, do Deus-connosco foi preparado. No entanto, só na segunda parte do Tempo do Advento é que nos concentraremos na preparação da vinda histórica de Jesus. Por sua vez, a primeira parte do Tempo de Advento convida-nos a tomar consciência e a prepararmos a última vinda, em glória, de Cristo para instaurar a nova criação. Na verdade, o reza assim o Prefácio de Advento I: “Ele [Jesus] veio a primeira vez, na humildade da natureza humana […]; de novo há-de vir na sua glória, para nos dar em plenitude os bens prometidos”. No entanto, entre a vinda histórica de Jesus há 2000 anos em Belém e a última vinda de Cristo, a liturgia também nos testemunha outra vinda de Cristo: “Agora Ele vem ao nosso encontro, em cada homem e em cada tempo, para que o recebamos na fé e na caridade e dêmos testemunho da gloriosa esperança do seu reino” (Prefácio do Advento I/A).

Assim sendo, o tempo do Advento mete-nos diante de três vindas de Cristo: a vinda histórica de Jesus há 2000 em Belém, a vinda quotidiana de Cristo em cada homem e em cada tempo e a vinda gloriosa do Senhor no final dos tempos. Colocando-nos diante das vindas de Cristo, outra coisa não pretende ser o Tempo do Advento do que ser um tempo de prepararmos a vinda de Cristo.

Se na primeira leitura deste dia pedíamos a vinda de Deus até a nossa história, o Evangelho indica-nos, não o como nem o quando da última vinda de Jesus mas a forma correcta de prepararmos esperando e esperarmos preparando a Vinda do Senhor.

O texto evangélico deste domingo é de Marcos. Na verdade, neste novo ano litúrgico (Ano B) leremos o Evangelho de São Marcos, o primeiro evangelho a ser escrito. O texto evangélico de hoje pertence ao capítulo 13 do evangelho de Marcos, faz parte do comummente chamado discurso escatológico. Este discurso é pronunciado por Jesus em Jerusalém, poucos dias antes da sua paixão e morte na cruz.

Com o discurso escatológico e através de uma linguagem profético-apocalíptica, Jesus pretende dar aos seus discípulos algumas indicações sobre a atitude que devem adoptar enquanto aguardarem a Sua última vinda gloriosa. O discurso escatológico de Jesus é uma mensagem dirigida a todos os discípulos sobre a forma como a comunidade cristã deverá enfrentar as dificuldades que se apresentarão até à sua última vinda.

Jesus, depois de ter anunciado uma série de vicissitude que irão acontecer (primeira parte) e de ter anunciado a vinda do Filho do Homem (segunda parte), na terceira parte do seu discurso afirma que não se sabe a data da vinda do Filho do Homem e por isso exorta à vigilância. O evangelho deste domingo pertence à terceira parte deste discurso. Através de uma parábola e de uma exortação Jesus convida-nos à vigilância. Na verdade, por três vezes repete Jesus o imperativo: vigiai!

Começa Jesus por contar uma parábola: um homem ao partir de viagem confia aos seus servos várias responsabilidades e encarrega o porteiro de vigiar. Podemos identificar este homem que parte de viagem com Jesus. Jesus, pelo seu mistério pascal, volta para o Pai. Por sua vez, podemos interpretar os servos como os discípulos de Jesus e a tarefa encomendada como o Reino de Deus. Jesus, ao partir para o Pai, confia aos discípulos a tarefa do Reino. Os discípulos, na sua peregrinação quotidiana e enquanto esperam a última vinda de Cristo, devem empenhar-se na instauração do Reino no aqui e no agora da história. Por sua vez, o porteiro a quem o senhor mandou que velasse pelos servos é símbolo dos responsáveis das comunidades. Os responsáveis das comunidades têm de se preocupar por aqueles que lhe estão confiados. Os responsáveis das comunidades têm de velar para que o Reino seja instaurado e tem de impedir a entrada, na comunidade, de valores contrários ao reino.

Terminada a parábola, Jesus exorta os discípulos à vigilância. A execução da tarefa confiada pelo Senhor ao partir, ou seja, o reino de Deus, deve ser realizada numa atitude vigilante, numa atitude atenta e sem distracções. Na verdade, a nossa vida é importante demais para andarmos distraídos. Temos de estar atentos pois não sabemos quando virá o Senhor. Temos de vigiar.

No entanto, o que significa vigilância? Na nossa linguagem do dia-a-dia quando nos referimos a vigilância ou a vigiar, referimo-nos, em primeiro lugar, a uma acção de protecção ou de espionagem de alguém ou de alguma coisa. No entanto, a vigilância que aqui nos é pedida é uma atitude de atenção. Na verdade, vigilância literalmente significa “abstenção do sono”. Jesus ao pedir-nos para vigiar está a pedir-nos para não andarmos pela vida a dormir mas acordados. Pede que estejamos atentos à nossa vida, à forma como estamos a viver e a cumprir a tarefa que o Senhor nos encomendou ao partir. O cristão é aquele que desperto caminha no presente com os olhos no futuro!

No entanto, para mantermos tal atitude na nossa vida não bastam só as nossas forças. Contudo, não devemos desanimar. Recorda-nos o apóstolo Paulo, na segunda leitura deste Domingo, que Deus, em Cristo Jesus, nos dá a sua graça. Na verdade, é Ele que nos tornará firmes até ao fim para que sejamos irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus dá-nos a sua graça, dá-nos o seu amor e ajuda-nos a viver cada dia da nossa vida de uma forma vigilante.

Que a celebração deste I Domingo do Advento nos leve a acender a vela da vigilância. Na verdade, a nossa vida e a tarefa que o Senhor nos confiou até ao seu regresso são importantes demais para andarmos pela vida a dormir.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista

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