Ano B – XXI Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura: Jos 24,1-2a.15-17.18b;
Salmo: Sl 33,2-3.16-17.18-19.20-21.22-23;
2ª Leitura: Ef 5, 21-32;
Evangelho: Jo 6, 60-69.


A pessoa e a mensagem de Jesus não são consensuais hoje em dia. São muitos aqueles que se diziam cristãos e que hoje se afirmam agnósticos ou mesmo ateus. Na verdade, quer a pessoa quer a mensagem de Jesus interpelam-nos e desinstalam-nos e não nos permitem viver sossegados e tranquilos. Muitas vezes deixamos sair o mesmo desabafo daqueles discípulos que escutávamos no evangelho de hoje: “Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?”.

Estamos na conclusão do capítulo VI do evangelho de S. João, capítulo que temos vindo a escutar nestes últimos domingos e que depois de ter narrado a multiplicação dos pães nos transmitiu o discurso do Pão da vida. Neste discurso, Jesus apresentou-se como o verdadeiro pão que dá a vida e a vida em abundância e convidou os seus ouvintes a aderirem à sua pessoa e mensagem para terem a vida. No entanto, não é fácil aderir à pessoa, mensagem e estilo de vida de Jesus. Na verdade, seguir Jesus exige que se siga o mesmo caminho de doação total aos outros por amor. Este caminho proposto por Jesus é visto por muitos como um caminho que leva ao fracasso e não à vida e à vida em abundância. Foi por isso que durante o discurso os seus ouvintes pediram provas e sinais e que no texto de hoje ante a exigência das propostas de Jesus pensam seriamente em desertar. 

Ante a tentação de muitos discípulos abandonarem Jesus por não estarem dispostos a seguir o exigente caminho da cruz, Jesus não diminui nem atenua as condições do seguimento. Ele garante que só aderindo a Ele, o pão vivo descido dos céus, é que os homens podem ter a vida. “As palavras que eu vos disse são espírito e vida”. No entanto, Ele não baixa as condições, não atenua a sua proposta. Jesus não está interessado no número dos seus seguidores mas na qualidade dos seus discípulos. 

Tal situação levou muitos discípulos a abandonarem, a afastarem-se de Jesus e a não andarem com Ele. Não querem desinstalar-se dos seus esquemas de comodismo e dos valores humanos e por isso renunciam a Jesus, à sua proposta e aos seus valores.

Este não é um facto só do passado mas também é uma realidade bem presente nos nossos dias. Na verdade, pode acontecer que muitas pessoas sintam uma certa simpatia com a pessoa, os valores e a mensagem de Jesus. No entanto, Jesus não se contenta com um simples e mero interesse e não se reduz a alguém que resolva de uma maneira fácil e instantânea os problemas das pessoas. Jesus é exigente com aqueles que se aproximam dele. Ele quer e deseja oferecer a todos o pão da vida, a vida em abundância mas para isso é necessário seguir os seus valores e o seu estilo de vida baseado no serviço e na dádiva da vida por amor. E é aqui que os problemas começam. Quando aparecem as dificuldades e as exigências no caminho dos discípulos são muitos aqueles que não se querendo desinstalar-se e arriscar renunciam à vida e à vida em abundância e começam a afastar-se de Jesus, e deixam de andar com ele. 

Ante a deserção destes discípulos, Jesus não minimiza a sua proposta para aqueles que ainda ficaram com ele numa tentativa de os manter junto de si. Ante a deserção dos discípulos, Jesus não só não minimiza as condições para o seguirem como também interroga os doze: “Também vós quereis ir embora?” Jesus não está interessado no número dos seus seguidores mas na qualidade e na pureza das motivações dos seus discípulos. 

O facto de muitos irmãos nossos abandonarem hoje a Igreja e não quererem saber nada de Cristo continua a interpelar-nos. Ante este fenómeno, Jesus continua a perguntar a cada um de nós: “Também vós quereis ir embora?”. Jesus respeita a nossa liberdade. Ele sempre propõe e nos indica o caminho da vida que devemos seguir mas nunca nos obriga a nada. A nossa fé, a nossa adesão à pessoa e à mensagem de Jesus devem nascer da nossa liberdade.

No entanto, ante o desafio que é o abandono de tantos contemporâneos nossos de Jesus e da Igreja, devemos responder com o mesmo entusiamo de Pedro: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus”. Ante o desafio e a interpelação daqueles que se vão embora, nós devemos renovar a nossa fé em Jesus, na sua mensagem e nos seus valores. Devemos revigorar a nossa certeza que só em Jesus está a vida e a vida em abundância. Não devemos andar ao sabor de maiorias e de tendências mas devemos seguir a nossa fé e agir em conformidade com ela. Na verdade, pode acontecer que ante o facto de muitos dos nossos contemporâneos deixarem de ser crentes possamos sentir-nos tentados também nós a irmos embora. Se eles foram por que motivo devo continuar? No entanto, devemos nestes momentos professar com mais vigor a nossa fé em Jesus: Ele é o Filho de Deus e as suas palavras são palavras de vida. 

Mas como podemos ter a certeza que é optando por Deus e pelos seus valores que podemos chegar à vida em abundância e feliz. A primeira leitura deste Domingo retirada do livro de Josué indica-nos um caminho: a recordação de todas as maravilhas que o Senhor realizou em nosso favor. A recordação de todas as maravilhas que Deus fez em nosso favor, a recordação dos actos bondosos e salvadores de Deus ajudam-nos a optar por Deus e pela fidelidade à sua aliança.

Na primeira leitura deste dia, Josué, nas vésperas da sua morte, reúne em Siquém todas as tribos e propõe-lhes a renovação da aliança com Deus. Josué convida as tribos a optarem entre Deus ou os falsos deuses. Josué e a sua família servirão o Senhor. Ante o desafio lançado, o povo opta por servir o Senhor que o libertou da escravidão do Egipto e que o acompanhou com solicitude paternal no seu caminho pelo deserto. Assim sendo, a decisão de servir o Senhor não é uma obrigação mas uma opção livre do povo, opção essa que nasce da experiência libertadora e benevolente que fizeram de Deus. Depois de experimentarem a libertação da escravidão e a solicitude de Deus ao longo do seu caminho em direcção à terra da promessa, sabem que só Deus pode oferecer-lhes a vida em abundância, a liberdade e a felicidade. 

O texto que escutamos tem como ponto de partida um facto histórico mas acima de tudo é uma catequese sobre o compromisso do Povo com o seu Deus que pretende que o povo mantenha-se fiel a aliança com Deus e não se deixe seduzir por outros deuses e outras pseudo-propostas de felicidade. 

A recordação, a memória dos grandes actos de bondade e de amor com que Deus nos brinda ajuda-nos a seguir e a optar com maior fidelidade e convicção pelo Senhor nosso Deus. Na verdade, a liturgia da Palavra deste XXI Domingo do tempo comum é um convite que se nos faz a optarmos pelo Senhor para chegarmos à vida e à felicidade. É verdade que o exemplo de muitos irmãos nossos que se afastam de Jesus e da sua Igreja levam-nos muitas vezes a sentirmo-nos tentados a também desistirmos ante a dureza das palavras de Jesus. O abandono dos outros faz-nos pensar e parece que Jesus, como aos discípulos, nos interpela: “Também vós quereis ir embora?”. No entanto, a recordação de todos os actos salvíficos com que Deus nos brinda impede que abandonemos Jesus. Na verdade, também nós que fazemos a experiência do amor e da libertação de Deus podemos dizer como Pedro: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”. Na verdade, dos momentos de crise e dúvida brotam as mais belas expressões e profissões de fé. Que a celebração deste Domingo a todos nos ajude a optar sempre por Cristo e pelos seus valores. Na verdade e apesar das dificuldades só seguindo Cristo, só optando por Deus é que podemos ser felizes e ter a vida.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista

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Uma resposta

  1. goatei imenso desta homilia: Nós nao de facto somos escravos e obrigados de seguir Jesus. somos uma comunidade convicta dos gozam de liberdade.

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