Retiro do Grupo do Voluntariado Passionista em Barroselas

Nos dias 24 e 25 de novembro, o Grupo do Voluntariado Passionista esteve em retiro, na Comunidade Passionista de Barroselas, para um encontro de reflexão, formação e planeamento das atividades e projetos para o novo ano.
Os voluntários foram desafiados a “calçar os sapatos do outro”, não no seu sentido literal, mas no olhar atento às necessidades de quem nos rodeia, ao sofrimento e à solidão em que por vezes o outro se encontra.
Esta reflexão prolongou-se num momento muito introspetivo e particular, proporcionado pela vigília organizada pela Juventude Passionista de Barroselas, a propósito do Dia Mundial da Juventude. Ao som de belos acordes, da luz e calor das velas, pudemos contemplar os pés descalços de Jesus pregado na Cruz.
Partilhamos um pequeno texto que inspirou a reflexão do Grupo.

Pés Descalços
Não me é indiferente ver alguém a caminhar de pés descalços. Penso sempre se será por pobreza? Despojamento? Ou sinal de segurança?
Desde a minha infância que procuro esta resposta. Via os trabalhadores da nossa casa agrícola (que também se dedicava ao cultivo do arroz) descalços, pés calejados, pés nus e achava eu que deviam estar doridos, mas ao mesmo tempo sentia que nestes pés havia uma firmeza e forte ligação à Terra. Sei que estes pés respeitavam a Terra e tudo o que ela oferecia.
Via, nestes homens e mulheres, um exemplo de despojamento, abnegação e respeito quando, ao iniciarem o dia de trabalho, de pés descalços e a olhar para o alto, faziam o sinal da cruz.
Aprendi, à medida que fui crescendo e ouvindo o meu avô José (homem doce, culto, com um olhar onde se via a dignidade com que vivia e com que tratava todos os seres, e com um colo maravilhoso onde se ouviam as melhores histórias) que os grandes também se descalçam.
Contou-me a lenda de S. Adalberto (século IX) que, antes de tomar posse como Bispo de Praga, ao aproximar-se da Catedral tirou os sapatos e foi descalço até ao Altar. E falou-me muitas vezes doutro homem grande que também se descalçava: Jesus, o Nazareno.
Percebi que os pés são a parte do corpo mais intimamente ligada à Terra, são o primeiro contacto com esta, dão estabilidade e são fonte de movimento. Ficar descalço é sentir a nudez, é arriscar ferir-se, é o ato mais profundo de humildade e necessidade do outro.
É neste descalçar que se materializa o respeito, a submissão, a obediência e a necessidade de ligação do Homem ao Divino. E quantas vezes pensamos sobre isso?
Já pensamos que fez Jesus com os seus pés? Já pensamos que os calejou? Já pensamos que cobriu os seus pés de pó nas longas caminhadas a encontro dos pobres, dos doentes e dos famintos? Já pensamos que com os seus pés descalços carregou a cruz, onde mais tarde estes viriam a ser pregados?
Foi Este enviado pelo Pai que tentou mostrar o caminho. Digo tentou, porque ainda não entendemos que sem humildade não há amor e sem amor o outro não existe.

Conceição Sousa Santos

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