Ano B – Solenidade do Nascimento de S. João Baptista

1ª Leitura: Is 49, 1-6;
Salmo: Sl 138, 1-3. 13-14ab. 14c-15;
2ª Leitura: Act 13, 22-26;
Evangelho: Lc 1, 57-66. 80.

 

Celebramos hoje a solenidade do nascimento de São João Baptista que anunciou e preparou a vinda do Senhor e o mostrou já presente no meio dos homens. Só de três personagens é que a liturgia celebra o seu nascimento: o Senhor Jesus (25 de Dezembro), a Virgem Maria (8 de Setembro) e São João Baptista (24 de Junho). O facto de celebrarmos o nascimento de São João Baptista deixa bem claro a importância que o Percursor do Senhor tem na história da salvação. 

Não podemos negar a importância de João Baptista na história da salvação. O próprio Senhor Jesus fez dele o seguinte elogio: “Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista”(Mt 11, 11). No entanto, a celebração do nascimento de João Baptista, a afirmação de que João foi escolhido desde o ventre materno, como a personagem do Servo de Yahwéh de que nos fala a primeira leitura de hoje, deixa bem claro que a missão de João Baptista tem origem na escolha livre e gratuita de Deus e não nos méritos do homem. Deus escolheu João Baptista para ser o percursor do Senhor, antes de Ele nascer e não depois de ele ter mostrado quer era digno ou que tinha capacidades para assumir tal tarefa. Assim sendo, a solenidade deste dia convida-nos a meditar na vocação, no papel de João Baptista na história da salvação. 

O evangelista Lucas, no evangelho de hoje, narra-nos o nascimento e a circuncisão de João. Escrevendo para uma comunidade que conhecia os discípulos de João Baptista, o evangelista Lucas deixa bem claro a superioridade de Jesus em relação a João Baptista. No entanto, também não deixa de afirmar o importante papel importante que João desempenha na história da salvação. No seu evangelho da infância, ou seja, nos dois primeiros capítulos do seu evangelho, Lucas mostra o paralelismo que existe entre o anúncio do nascimento e o próprio nascimento de Jesus e de João Baptista. Ao apresentar este paralelismo, Lucas mostra a relação que existe entre Jesus e João e mostra o papel subordinado de João à Jesus. 

Segundo o evangelista Lucas, o nascimento de João Baptista provocou alegria entre os vizinhos e parentes de Isabel e Zacarias, deste casal estéril e de idade avançada: “Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela”. Para o evangelista Lucas, a alegria é um sinal de que a salvação, os tempos novos da misericórdia e do cumprimento das promessas de Deus já chegaram. A alegria é uma das reacções que em nós provoca a salvação. Assim sendo, o evangelista Lucas ao dizer-nos que o nascimento de João Baptista provocou alegria está a dizer-nos que com o seu nascimento as promessas de salvação de Deus começam a cumprir-se. Na verdade, não é João o Salvador prometido por Deus. O salvador prometido é Jesus. No entanto, João é o percursor de Jesus, é aquele que, como Zacarias canta no seu cântico de louvor após o nascimento do seu Filho, é “o profeta do altíssimo porque irá à sua frente a preparar os seus caminhos, para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados” (Lc 1, 76-77).

Além da alegria, o evangelista Lucas também afirma que o nascimento de João provocou espanto e temor. Também estas são reacções próprias de quem entra em contacto com a salvação e a presença de Deus. Na verdade, o espanto é a reacção das multidões diante dos milagres de Jesus e das manifestações divinas. Por sua vez, o temor de que se fala é o temor sagrado, é a reacção óbvia diante da manifestação do mistério de Deus. Assim sendo, Lucas ao dizer-nos que o nascimento de João Baptista provocou alegria, espanto e temor está-nos a dizer que no seu nascimento a revelação e a salvação de Deus estão a concretizar-se. 

Depois de ter narrado a alegria que o nascimento de João Baptista provocou, o evangelista Lucas centra-se na circuncisão de João que ocorreu oito dias depois do seu nascimento. O episódio da circuncisão é importante porque é aqui que se dá o nome de João ao filho primogénito de Zacarias e de Isabel. O nome, na mentalidade bíblica, é algo importante porque determina e indica a dignidade de quem o tem e recorda o seu parentesco. Assim sendo, para os parentes e vizinhos era óbvio que o menino que nascera devia chamar-se Zacarias, como o seu pai. No entanto, Zacarias e Isabel, que sabiam que este filho que lhes nascera era um dom de Deus, dizem que o nome da criança, conforme o anjo indicará a Zacarias, será João. João quer dizer: Yahwéh é graça e bondade e é exactamente isto que João Baptista ao ser o percursor de Jesus anuncia. 

Depois de ter confirmado que o nome da criança seria João, Zacarias recupera a fala e começa a louvar a Deus. Aquele que tinha ficado mudo por não ter acreditado na promessa de Deus anunciada pelo anjo quando a promessa foi cumprida recupera a fala para louvar e profetizar.

Ao terminar o evangelho deste domingo, Lucas refere-nos que: “a mão do Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel.” Nenhuma destas indicações de Lucas são supérfluas. Na verdade, ao usar a expressão do Antigo Testamento segundo a qual a mão do Senhor estava com João, Lucas afirma que João tem a protecção de Deus e que Deus actua nele. Em seguida, o crescimento de João é apresentado com a mesma expressão que é usada para resumir a infância de personagens importantes da história de Israel e do próprio Jesus. Por fim, a referência da ida de João para o deserto também é importante porque, na bíblia, o deserto é o lugar onde o povo faz a experiência do encontro e da aliança com Deus. 

As circunstâncias especiais que envolveram o nascimento de João levaram todos os que ouviam contar tal facto a guardarem estes acontecimentos no seu coração e a perguntarem-se: “Quem virá a ser este menino?”. A segunda leitura deste dia, retirada dos Actos dos Apóstolos, responde-nos a esta questão. O Apóstolo Paulo, no discurso que pronunciou na sinagoga de Antioquia de Pisídia, ao expor como toda a história da salvação converge e culmina em Jesus faz uma referência a João Baptista. Segundo o Apóstolo Paulo, João Baptista é aquele que preparou a vinda do Senhor convidando o povo à conversão através de um baptismo de penitência e que anunciou a sua vinda. João não é auto-referencial. Ele é um instrumento de Deus que anuncia a vinda do Messias. Na verdade, João afirmava: “Eu não sou quem julgais, mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés”. A missão de João é preparar a vinda e o acolhimento do Salvador enviado por Deus, Jesus de Nazaré. É aqui que reside a grandeza de João Baptista. 

A celebração desta solenidade do Nascimento de São João Baptista não nos pode deixar indiferentes. Na verdade, a celebração de um santo é algo que “entusiasma a buscar a cidade futura (cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho seguro, pelo qual, por entre as efémeras realidades deste mundo e segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade” (LG 50). 

Assim sendo, a celebração da Solenidade do Nascimento de São Baptista pede-nos que vivamos a nossa vida como uma vocação de Deus. Também a nós, como a João Baptista, Deus escolheu-nos desde o seio materno. A nossa primeira e fundamental vocação é a vocação baptismal, a vocação à santidade, à felicidade verdadeira. Por outro lado, a presente solenidade também nos estimula a sermos precursores, anunciadores da vinda Senhor. Há tantos irmãos nossos que ainda ignoram a vinda de Jesus, o único que nos pode trazer a salvação e a felicidade plena. Não teremos nós culpa nesta triste ignorância? Somos capazes de anunciar com coragem e audácia a salvação que Cristo nos traz preparando assim caminhos de encontro entre Cristo e os nossos contemporâneos? Somos capazes de testemunhar a presença de Cristo no meio do nosso mundo? Que estamos nós a fazer da nossa vida?

Que São João Baptista interceda por todos nós para que saibamos preparar sempre os caminhos do Senhor que vem.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista

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2 respostas

  1. Questões finais muito bem colocadas! Muitos temos até medo de entrar nas redes sociais e nos identificarmos como católicos, para que não nos marquem!!!…Somos incapazes de tomar posição e assinar uma petição para defender alguém que os novos “direitos humanos” condenaram, por “crimes de homofobia ou ódio”! Estamos cheios de medos, e vamos cedendo cada vez mais espaço ao inimigo, que nos vai encurralando e sufocando, a nós e às gerações vindouras que nós não defendemos!
    O Espírito Santo, parece andar bem distante, por falta de espaço, já cedido a outros!
    Existe muito elitismo, que é o fariseísmo moderno, e que continua a ser condenado por Deus, como no tempo de Jesus. Criamos filhos comodistas, sem nunca lhes termos falado de sacrifícios, porque isso pode os traumatizar para toda a vida!!!… Não soubemos educar, por nos termos deixado influenciar pelos promotores do paganismo, e eles andaram na catequese, “muito lithe!”, com medo que eles se fossem embora, e eles acabaram o catecismo e foram mesmo, porque tudo o que lhes tínhamos ensinado, eram aparências…

  2. Por favor qual o evangelho e.m que Jesus refere e compara S. João Baptista como o homem mais importante, contudo pondo-o abaixo de todos os que são do céu.

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