O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio: este é o compromisso programático proposto pelo Papa Francisco. A sinodalidade, efetivamente – sublinhou – é dimensão constitutiva da Igreja, de tal maneira que aquilo que o Senhor nos pede, num certo sentido, está já tudo contido na palavra “sínodo” … A eclesiologia do Povo de Deus [do Concílio Vaticano II] sublinha, de facto, a dignidade comum e a missão de todos os batizados, no exercício da multiforme e ordenada riqueza dos seus carismas, das suas vocações, dos seus ministérios.
O conceito de comunhão exprime, neste contexto, a substância profunda do mistério e da missão da Igreja, que tem na sinapse eucarística a sua fonte e o seu cume. Isto designa a res do Sacramentum Ecclesiae: a união com o Deus Trino e a unidade entre as pessoas humanas que se realiza mediante o Espírito Santo em Cristo Jesus.
A sinodalidade, neste contexto eclesiológico, indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja Povo de Deus, que manifesta e realiza em concreto o seu ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e na participar ativamente de todos os seus membros na sua missão evangelizadora … [Então] o conceito de sinodalidade reclama o envolvimento e a participação de todo o Povo de Deus na vida e na missão da Igreja. (CTI, La sinodalità nella vita e nella missione della chiesa).
A sinodalidade, porém, só será efetiva quando o povo de Deus for reconhecido como sujeito ativo na plenitude do seu múnus profético-real-sacerdotal. O verdadeiro nó, aquele que na verdade poderá mudar o modelo de Igreja e pôr em marcha um autêntico estilo sinodal, é o de se reconhecer como irmãos e irmãs, assinalados em paridade com o sinal batismal-crismal, que os torna idóneos a alimentar-se do corpo e sangue de Cristo e ser cristãos de pleno direito.
A iniciação cristã confere-nos autoridade, individualidade, direitos e deveres a exercer para com toda a comunidade em reciprocidade, como membros do mesmo corpo a conduzir juntos à plenitude do plano de Deus. Infelizmente, as nossas comunidades estão bem longe desta consciencialização. A corresponsabilidade exige compromisso, discernimento, aquisição e reconhecimento de competência. E estas coisas requerem trabalho, muito trabalho. Uma Igreja local como também as comunidades que a compõem, nela compreendidas aquelas assinaladas pela escolha “regulamentada”, isto é, pela adesão a uma comum regra de vida, são as primeiras a simplificar os organismos conformes aos princípios de vértice e hierárquicos.
E, tudo somado, para muitos fiéis e /ou religiosos/as este modo de proceder garante uma vida tranquila que seria perturbada se eles fossem chamados a escolher e decidir. Ficamos, assim, asfixiados a defender uma pastoral de sobrevivência, a persistir em fazer crescer e frutificar as nossas onerosas obras. Não nos perturba o abandono da fé de muitos adolescentes e adultos. Basta-nos sobreviver e não nos importamos muito com o futuro. Mas seria bom um outro testemunho: uma comunidade que se interrogasse continuamente sobre a própria fé e sobre as modalidades de a confessar e anunciar; seria muito mais incisivamente profética uma comunidade que elaborasse, no trabalho do discernimento e do confronto um projeto catequético, litúrgico, pastoral de acordo com os sujeitos que a constituem e para aqueles a quem nos devemos abrir, visto que a Igreja não existe para si mesma, mas para ser sacramento, isto é, sinal e instrumento do encontro com Deus e da unidade de todo o género humano (cf. LG 1).
Um estilo sinodal é, portanto, aquele que coloca antes de tudo o reconhecimento mútuo, reforçado pela recíproca autoridade, animado pela difícil consciência dos dons conferidos pelo Espírito a cada um para utilidade comum. Ninguém é inútil na Igreja local, como nas comunidades que a constituem. Ninguém é inútil numa comunidade religiosa, mas todos e todas são igualmente marcados pelo Espírito mesmo na extraordinária diversidade de dons conferidos a cada um/a. Portanto, a sinodalidade é reconhecer-se a caminho juntos, mesmo na variedade dos dons, sem hierarquias sagradas, sem hipotecas clericais, sem privilégios de qualquer género. Juntos como irmãos e irmãs que olham para o modelo trinitário, círculo inefável de reciprocidade interpessoal, a cuja imagem os homens e as mulheres foram criados. Irmãos e irmãs constitutivamente no sinal do diálogo e do serviço, no sinal da gratuidade que promanam do Pai – Filho – Espírito.
Uma Igreja verdadeiramente à imagem da Trindade, uma humanidade que realmente coloca em circulação o ser à imagem: eis o fundamento da sinodalidade e do estilo sinodal, ou seja, do caminhar juntos, ansiosos e diligentes, responsáveis e mutuamente atenciosos uns aos outros, de modo a viver a história humana, testemunhando os desafios e valores do Reino de Deus
MILITELLO, Consacrazione e Servizio 1 (2019)