Ano A – III Domingo do Advento

1ª Leitura: Is 35, 1-6a. 10;
Salmo: Sal 145, 7. 8-9a. 9bc-10;
2ª Leitura: Tg 5, 7-10;
Evangelho: Mt 11, 2-11.

A liturgia da palavra deste III Domingo do Advento, também conhecido como domingo da alegria, começa com um convite a alegria. Na verdade, a palavra-chave da leitura do livro de Isaías que neste Domingo é proclamada é a palavra alegria que aparece quatro vezes neste texto.

Mas por que motivo convida o profeta à alegria? Para responder a esta questão temos de situar Is 35, 1-6ª. 10 no seu contexto literário e histórico. Na verdade, os capítulos 34 e 35 do livro de Isaías parecem que estão deslocados do seu ambiente natural seriam capítulos 40-45 do livro de Isaías. Estes capítulos pertencem ao Deutero-Isaías que actuou junto dos exilados na babilónia na última fase do exílio. Assim sendo, este texto é destinado à comunidade dos exilados na Babilónia que vivia um período complicado na sua vida de fé. Deus parece que os abandonou e que se esqueceu das promessas que tinha realizado ao Povo da Antiga Aliança. Assim sendo, o profeta vê-se na necessidade de dirigir a esta comunidade mergulhada na tristeza, no desespero e no abandono de Deus uma palavra de alegria, de esperança e de salvação. Para devolver a esperança e o ânimo aos exilados o profeta pronuncia este hino da alegria.

O primeiro convite que o profeta faz é a alegria: “Alegrem-se”. Na verdade, a alegria é para Israel o resultado da intervenção salvífica nas vicissitudes históricas de Israel que mostra a fidelidade de Deus à aliança com o povo eleito.

O profeta convida à alegria porque Deus já está aí para salvar e levar o povo de volta para Sião. Tal acção de Deus, que está perto e vem-nos salvar, muda não só os homens mas também o meio ambiente. A acção de Deus na história é uma acção de inversão da realidade. Os cegos passam a ver a salvação de Deus, os surdos passam a ouvir o cântico da Nova Páscoa, os coxos passam a dançar em acção de graças ao Deus da salvação e os mudos passam a cantar a alegria messiânica. No entanto, não é só o povo a alegrar-se. Também o meio ambiente é transformado pela alegria. O deserto, lugar de seca e de pouca vida, transforma-se numa terra fértil e colorida por várias flores. Também os homens se alegram com a acção salvífica de Deus.

É nesta linha que também temos de entender o próprio convite dirigido a Nossa Senhora no episódio da encarnação: “Alegra-te ó cheia de Graça” (Lc 1, 28). Esta alegria é o sinal e o efeito da vinda do messias. É a alegria messiânica que os profetas anunciaram (Sof 3, 14) e que em Jesus, pelo seu mistério pascal, onde a Luz do Domingo de Páscoa transfigura a dor de Sexta-feira Santa, se abre a todo o mundo que vê a sua dor não eliminada mas redimida.

No entanto, também nós temos dificuldade em acreditar que Jesus é o verdadeiro messias que vem transformar a realidade, que vem instaurar os novos céus e a nova terra. Também o próprio João Baptista sentiu a mesma dúvida, prova disto é o evangelho de Mateus proclamado neste domingo.

Esta perícope evangélica insere-se no conjunto de reacções que a mensagem e a obra de Jesus suscitam nas diversas pessoas e nos diferentes grupos sociais de Israel. Além disto, também pretende ser um esclarecimento do lugar de João Baptista em relação a Jesus. É provável que os discípulos de João baptista ainda estivessem activos no tempo em que o evangelho foi escrito e que Mateus agisse no intuito de os chamar para a Igreja.

João Baptista, que pregava uma mensagem de arrependimento e de penitência para prepara a vinda do messias, vê-se na necessidade de enviar alguns dos seus discípulos a interrogar Jesus, uma vez que estava preso por ter repreendido a união imoral do Rei Herodes e Herodiades. “És Tu Aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?” Na verdade, João esperava que o Messias fosse o juiz escatológico, armado de pá e fogo (cf Mt 3, 11-12) e as notícias que recebe de Jesus mostram que ele é alguém benéfico, acolhedor e disposto a perdoar. As notícias que chegam a João sobre a mensagem e a prática de Jesus não correspondem à sua missão de messias.

Ante tal pergunta, Jesus responde sobre a sua pessoa e a sua missão apontando os milagres realizados e que são uma clara evocação da descrição messiânica que a primeira leitura nos apresentava. A pergunta de João com a resposta de Jesus dissipa as dúvidas e perplexidades do Baptista e dos seus discípulos e mostra-nos a consciência que Jesus tinha da sua pessoa e da sua obra. Jesus descreve como é o verdadeiro messianismo. Jesus não vem para dar a Israel uma independência nacional e o domínio sobre todos os povos, segundo as expectativas do messianismo político. Jesus é o messias na medida em que através da sua acção “os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres”.

No entanto, Jesus reconhece que pode não ser fácil reconhecer nele o verdadeiro messias: “bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo”. Jesus sabe o contraste que pode haver entre as nossas perspectivas messiânicas e o seu messianismo. Quem alimentar ilusões triunfalistas ficará desiludido com Jesus. O messianismo de Jesus não é o do sensacionalismo mas o que passa pela via da humildade e da cruz. É o escândalo da cruz de que nem Pedro (cf. Mc 8, 31ss) nem os restantes discípulos escapam (cf. Mc 14, 27). No entanto, é feliz quem não se escandalizar, quem não tropeçar, quem aceita e compreende esta acção messiânica de Deus.

A segunda parte do evangelho deste domingo consiste na apresentação que Jesus faz de João Baptista. Pelo seu ascetismo e pela sua crítica ao poder ele é como o profeta Elias (cf. 1 Rs 17-18). O seu estilo de vida pobre e penitente e não sumptuoso foi o que atraiu e fez pensar o povo. Assim sendo, Jesus considera que João é o novo Elias que devia vir para preparar a vinda do Messias (cf. Ml 3,1; Eclo 48, 10-11). No entanto, e apesar da sua actividade superar todos os anúncios proféticos, ele não se iguala aos que pertencem ao reino. “Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele”.

A que nos convida a liturgia deste III Domingo de Advento? Convida-nos à alegria, porque Deus é fiel à sua promessa e envia-nos Jesus Cristo, o verdadeiro messias, para nos conduzir à verdadeira terra da promessa.

A alegria é um dom que nasce do messianismo de Jesus. Todos buscam experiências que trazem consigo a alegria e o bem-estar. No entanto, muitas dessas experiências, apesar de poderem trazer consigo uma alegria fugaz, ilusória e com ressaca, não nos conduzem àquela verdadeira alegria que é o resultado da acção da salvação de Deus na nossa história concreta muitas vezes marcada pela tristeza e pelo sofrimento.

Além disto, muitas vezes ao ouvirmos este convite à alegria rimo-nos porque achamos que isto é algo utópico e impossível de concretizar. Pensamos que tal convite é só uma alienação para tantas situações de morte a que assistimos: violências, mentiras, fome, …

No entanto, o convite à alegria traz consigo a promessa e a presença de Deus. Deus está connosco. O que celebramos em cada Natal é este mistério do Emanuel, do Deus connosco, que nos veio trazer aquela alegria que ninguém nos pode tirar, que é a alegria da salvação, da vida em plenitude, de uma vida com Deus e em Deus. No Natal outra luz não resplandece senão a luz da Páscoa. A nossa alegria é a Páscoa do Senhor que se torna Páscoa na nossa vida para a Páscoa do Mundo.

Neste III Domingo de Advento, neste domingo da Alegria, outra vela não se deve acender do círio pascal do Ressuscitado senão a vela da Alegria.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista

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