Seminário da Santa Cruz dos Missionários Passionistas
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Santa Maria da Feira, Portugal
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Ano A – XXXIII Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura: Prov 31, 10-13. 19-20. 30-31;
Salmo: Sl 127, 1-2. 3. 4-5;
2ª Leitura: 1 Tes 5, 1-6;
Evangelho: Mt 25, 14-30 ou Mt 25, 14-15. 19-21.

 

No seguimento do Domingo passado, a liturgia da Palavra deste XXXIII Domingo do Tempo comum convida-nos a reflectir sobre a última vinda de Cristo, sobre a parusia. Na verdade, esta última de vinda de Cristo na glória, pela qual surgirá uma nova criação, onde nem a morte, nem a dor, nem o pecado terão lugar (cf. 2 Pe 3; Ap 21), em todas as eucaristias é pedida (“vinde Senhor Jesus”) e ao domingo é professada no símbolo niceno-constantinoplitano (“de novo há-de vir na sua glória”). Acreditar na última vinda de Cristo no final dos tempos é acreditar que toda a história está ordenada para Cristo, é viver com esperança.

Tanto o Evangelho como a segunda leitura deste domingo recordam-nos directamente o dia do Senhor, a última vinda de Cristo. A segunda leitura deste domingo é retirada da carta do apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalónica. É o primeiro escrito do Novo Testamento. A evangelização que o apóstolo Paulo realizou em Tessalónica foi breve. Na verdade, ele viu-se obrigado a fugir devido a um motim organizado pelos judeus. Assim sendo, a formação doutrinal dos cristãos de Tessalónica era um pouco débil. Um dos temas doutrinais em que os cristãos de Tessalónica mais dúvidas tinham era o tema da última vinda de Cristo.

Na verdade, os tessalonicenses e o próprio Paulo acreditavam que a última vinda de Cristo se daria num breve espaço de tempo. No entanto, o tempo ia passando e alguns cristãos já tinham falecido antes desta última vinda de Cristo. Assim sendo, os tessalonicenses interrogam-se sobre o futuro desses seus irmãos que morreram antes da vinda de Cristo. Como escutávamos no último domingo, Paulo tranquilizou os cristãos de Tessalónica ao afirmar que “Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido”. No entanto, depois de ter respondido à questão dos tessalonicenses, o apóstolo Paulo aproveita, no texto que escutávamos hoje, para continuar a reflectir sobre o dia do Senhor, especialmente sobre o tempo e a ocasião da vinda do Senhor e sobre a forma como se deve esperar a chegada desse dia.

Quanto ao tempo e a ocasião da vinda do Senhor, o apóstolo Paulo diz que isso não é uma coisa conhecida. Que essa vinda de Cristo em glória acontecerá é uma verdade de fé. No entanto a sua data é desconhecida. Não sabemos o dia nem a hora do regresso do Senhor. Para mostrar que a data da última vinda de Cristo é imprevista, Paulo utiliza as imagens do ladrão que aparece à noite quando menos se espera e das dores de parto que também surgem de repente. Assim sendo, não podemos cair no risco de alguns milenarismos que tem gosto em agendar o fim do mundo.

No entanto, o facto de que a vinda do Senhor seja um acontecimento cuja data é imprevista e desconhecida leva Paulo a abordar outro tema relacionado com a última vinda de Cristo. O carácter inesperado da última vinda de Cristo leva Paulo a falar da forma como devemos esperar esse dia. Os cristãos devem esperar a última vinda de Cristo numa atitude de vigilância e de sobriedade. Quem espera a última vinda de Cristo deve agir em função daquilo que espera. Os cristãos devem esperar activamente a vinda do Senhor. Devem estar despertos, vigilante e sóbrios e não adormecidos.

Sobre a vigilância activa com que os cristãos devem esperar a última vinda de Cristo também nos fala o evangelho deste domingo. O evangelho deste domingo faz parte do quinto e último grande discurso de Jesus no evangelho de Mateus, ou seja, o discurso escatológico. Este discurso pretende ser um incentivo a uma revivificação da fé, do entusiasmo e do compromisso cristão da comunidade a que é dirigido este evangelho. Na verdade, com o passar dos anos e com a aproximação das dificuldades, a comunidade de Mateus começou a desanimar, a entrar na rotina e no comodismo. Assim sendo, para reacender o entusiasmo e o fervor da comunidade, entre outras coisas, Mateus recorda à sua comunidade a parábola dos talentos que Jesus contou. Um homem que ao partir da viagem distribui pelos seus empregados a sua riqueza, os vários talentos que tinha. Ao regressar pede contas da administração dos seus bens. Àqueles que puseram a render, que fizeram frutificar os talentos, o senhor louva-os. No entanto, àquele que com medo de tudo perder escondeu os bens confiados pelo senhor e não os pôs a render o Senhor reprova-o e critica-o.

A primeira coisa que nos chama a atenção na parábola é a grande riqueza que é confiada aos servos: a um cinco, a outro dois e ao outro um talento. Cada talento equivale a trinta e seis quilos de prata; ao salário de três mil dias de trabalho. Assim sendo, a parábola mete em relevo o tesouro incalculável que Deus concede a cada um de nós. A todos nós e segundo as nossas capacidades, Deus nos concede os seus dons. Estes dons podem ser as mais variadas competências e habilidades que temos. No entanto, este grande tesouro que Deus nos concede também é o dom da fé, da Palavra de Deus, dos vários carismas e ministérios e dos valores do reino.

Assim sendo, a parábola dos talentos é uma forte interpelação a todos nós. Esta parábola deve levar-nos a perguntarmo-nos como estamos a administrar os dons que Deus nos concede. A boa administração dos dons, como podemos depreender da parábola, é a forma adequada de aguardar a última vinda de Cristo. Os dons que Jesus nos concedeu não são para serem enterrados na terra, não são para serem conservados egoistamente. Os dons que Jesus nos deu são para serem colocados a render, são para serem desenvolvidos.

Assim sendo, ao recordar esta parábola de Jesus à sua comunidade, Mateus está a recordar-lhe que todos seremos julgados segundo a atitude de vida que assumimos enquanto aguardamos a sua vinda. Se aguardamos a sua vinda numa jubilosa esperança, empenhados em pôr a render os talentos que o Senhor nos concede e esforçando-nos por dilatar o reino de Deus estaremos preparados para a sua vinda gloriosa. No entanto, se por preguiça, por comodismo, por rotina ou por medo não pusermos a render os talentos que Deus nos dá não estaremos preparados para a última vinda de Jesus.

A parábola de Jesus é um forte convite a pensarmos como estamos a viver a nossa vida. A nossa vida é para se pôr a render, mesmo correndo riscos e enfrentando dificuldades. A nossa vida é valiosa demais para a queremos só manter. Não nos basta uma atitude de manutenção. É preciso pôr a render, desenvolver os dons que o Senhor nos deu. A manutenção e o não arriscar é o caminho mais rápido para a destruição. A nossa vida tem de produzir frutos e não pode ser infrutífera. Ao não pormos a render os dons que o Senhor nos confia como administradores estamos a desperdiçar os dons que o Senhor nos oferece e estamos a privar os nossos irmãos dos frutos a que tem direito. Na verdade, todos os dons que o Senhor nos dá não são para proveito próprio mas para o bem de toda a comunidade (cf. 1 Cor 12,7). Assim sendo, a nossa vida, a nossa espera do Senhor que há-de vir deve ser uma espera activa, uma espera onde se põe a render os dons que o Senhor nos oferece.

Exemplo concreto de uma vida que soube produzir frutos é o da mulher prudente que a primeira leitura do livro dos Provérbios nos transmite. Na verdade, os valores do trabalho, da responsabilidade, da generosidade e do temor do Senhor são valores que todos aqueles que aguardam em esperança a vinda do Senhor pondo a render os seus talentos, e não só as mulheres, devem seguir.

Que a celebração deste domingo nos leve a pôr a render os nossos talentos, os dons que o Senhor nos deu. Só assim é que estaremos a preparar de uma forma vigilante e activa a última vinda de Jesus.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista