Refletir sobre a missão popular, implica voltar atrás no tempo e recordar a reunião mistério para a qual fomos convocados. Nessa reunião foi-nos apresentada a missão em termos conceptuais. Num primeiro momento, penso que todos ficamos receosos: “Missão popular? Mas o que é isso? Para que serve? O que irá implicar fazer?”. Não estando, de todo, conscientes do que a missão iria implicar e envolver, desde o primeiro momento que fomos desafiados a fazer parte dela, até chegar ao seu “desfecho”, posso dizer que representou uma enorme caixinha de surpresas.
Envolver cinco paróquias nesta missão, com centenas de pessoas, não era tarefa fácil. Porém, com a preciosa ajuda dos Padres Passionistas e do nosso Pároco Rui, tudo foi possível e com resultados verdadeiramente incríveis.
Ao longo dos vários meses de trabalho, confesso que houve algum receio de que alguma coisa fosse falhar, sobretudo quando chegamos à conclusão que o local central das celebrações iria ser o Pavilhão Gimnodesportivo numa freguesia vizinha. Conseguem imaginar uma igreja improvisada num pavilhão? Uma procissão de vários km em que o caminho é sempre a subir? Um grupo coral interparoquial, em que cada grupo tinha o seu registo, mas no qual fomos “obrigados” a adaptar-nos ao registo que se pretendia para as celebrações? Bem, a verdade é que isto era uma iniciativa verdadeiramente desafiante e que implicava vários meses de trabalho e dedicação. Porém, tudo se conseguiu. Aos poucos e poucos, tudo se foi compondo e todo este projeto foi ganhando não só estrutura, como vida.
Até que, rapidamente, chegamos ao mês de Outubro. O tão aguardado mês de Outubro, mês da missão. Primeiro, a procissão. Não há palavras que possam descrever tudo aquilo que vivemos naquela grandiosa procissão. As paróquias a ir ao encontro umas das outras, rezando e cantando a uma só voz. A Missão não podia ter começado da melhor forma. Foi um ambiente de oração e união nunca antes vistos.
Seguiu-se a Eucaristia do envio dos Animadores e Donos das casas. Mais uma celebração única, repleta de sentimentos e emoções, que elevou ainda mais o nossso compromisso na missão, pois seguia-se uma semana muito importante: a semana das Assembleias Familiares. Enquanto animadora, só posso dizer que foi uma das experiências mais ricas da minha vida. Durante aqueles 4 dias, debatemos sobre temas tão diversificados e, em simultâneo, tão pertinentes. Refletimos sobre questões que nos perturbam, que nos inquietam e que fazem, de facto, parte do nosso dia-a-dia. Questionamos os limites da nossa Fé, questionamos determinadas crenças, mas, no fundo, todas essas questões e discussões só nos fizeram aumentar ainda mais a nossa Fé e o nosso compromisso enquanto cristãos. Por outro lado, foi ainda uma oportunidade única de conhecer as pessoas que temos à nossa volta e com as quais não é frequente comentar estes temas. Foi, no fundo, uma forma de nos conhecermos a nós próprios e aos outros e, como irmãos, partilhar as nossas opiniões, histórias, medos, receios, problemas, etc.
Culminamos a semana das Assembleias Familiares com a Eucaristia da Assembleia das Assembleias. Mais uma bela celebração na qual foi possível expor os sentimentos vividos ao longo dessa semana. Uma celebração cheia de gestos simbólicos que ficará guardada para sempre no meu coração. No dia seguinte, a renovação dos votos matrimoniais e a unção dos doentes. Não sou casada, mas acho que esta foi uma oportunidade única de os casais reassumirem o compromisso do dia que os uniu aos olhos de Deus e, em muitos casos, acredito que possa ter reacendido a chama do amor. Na minha opinião, encaro esta celebração como uma lufada de ar fresco que os casais podem ter recebido e, no caso da unção dos doentes, com toda a certeza que, também eles, procuraram alguma paz de espírito numa fase crítica das suas vidas.
Seguiu-se mais uma semana de celebrações, desta vez com as comunidades. Mais temas para conhecer, mais questões sobre as quais refletir, mais conhecimento para adquirir. E que semanas intensas estas, onde o compromisso para com a missão é um dos sentimentos que mais se exalta. No meu caso, reservei todos os dias da missão e sempre que era convidada para iniciativas dizia “até dia 16 de Outubro lamento mas não estou disponível, estou em missão” e que bem que me soube recusar alguns convites. Não porque não quisesse comparecer, mas porque era um orgulho e uma enorme alegria para mim dizer que estava em missão, mesmo quando ninguém sabia o que isso era, e mesmo depois de eu explicar e assistir à sua desvalorização. Não me importo o que os outros pensam ou dizem, nunca me importou. Da minha Fé trato eu e só eu sei como a escolho viver. Foi desta forma que escolhi viver a missão: com compromisso e com alegria. Acho que isso foi bem visível não só ao longo de toda a missão, como no culminar da mesma, com a última celebração.
Para ser muito sincera, no início fiquei assustada. Estava a comprometer-me com algo a médio/longo prazo que eu ainda não sabia bem o que ia exigir de mim e do meu trabalho. Durante os meses de preparação houve momentos em que desanimei. Começa-se a trabalhar muito cedo e depois há momentos muito mortos em que, por vezes, se desanima um pouco. Porém, compreendo que assim seja, caso contrário ninguém iria aguentar preparar a missão a um ritmo alucinante. Quando comecei a ver resultados mais efetivos, como o pavilhão que se traduzia numa igreja improvisada, a ansiedade e a curiosidade tomaram conta de mim. Estava ansiosa para começar, para ver no que ia dar, para experienciar tudo aquilo que eu calculava que fosse ser incrível, mas nunca desta forma. A verdade é que tudo me surpreendeu. Tudo! O envolvimento das pessoas foi incrível e tudo isso fez com que esta missão se torna-se num momento memorável das nossas vidas.
Com a missão aprendi que nada é impossível. Improvisar uma igreja num gimnodesportivo? Constituir um grupo coral interparoquial? Reunir vizinhos para debater temas e questões religiosas todas as noites, durante uma semana? Fazer celebrações interparoquiais com procissões incluídas? Mobilizar quase 500 pessoas nesta missão? Há uns tempos atrás, ninguém teria a capacidade de imaginar tal coisa, mas a verdade é que foi possível. Com a missão aprendi que o compromisso move montanhas e que nunca é tarde para aprender. Com a missão aprendi a valorizar certas coisas que, em tempos, não perdia tempo a pensar sobre elas. Com a missão aprendi que ser católico não é só ir à missa e que temos muito mais “poder” nas nossas mãos do que aquilo que imaginamos. Com a missão aprendi que ter um serão para falar com as pessoas sobre temas e questões religiosas, não necessita de ser motivo de discussão, mas antes uma aprendizagem individual e coletiva, uma oportunidade de nós próprios refletirmos sobre esses assuntos, aprender com as reflexões dos outros, mas também ajudá-los naquilo que nos for possível.
Mas, com a missão, também senti. Senti que é tão bom estarmos envolvidos em novas iniciativas que servem para aumentar a nossa Fé e senti uma enorme alegria por ser cristã e por ter tido a oportunidade de desfrutar de uma missão como esta, da qual nem imaginava a sua existência.
Obrigada por esta oportunidade única que nos proporcionaram! Obrigada por nos terem ensinado tanto, por nos terem feito rir, divertir, mas também refletir sobre aquilo que é verdadeiramente importante! Obrigada por nos ensinarem a ser melhores cristãos! E obrigada por me terem proporcionado uma das experiências mais marcantes e simbólicas da minha vida!
Contudo, a missão ainda não acabou. Ela continua. Não nos mesmos moldes, mas naqueles a que nos comprometer-nos. Hoje, posso dizer que sou feliz porque estive em missão, estou em missão e irei continuar a estar, tentando cativar outros irmãos a envolverem-se também.