Durante esta Quaresma, recordamos São Paulo da Cruz, que dedicou a sua vida à meditação e ao anúncio da Paixão de Jesus. Pela sua experiência espiritual, mostra-nos que os sofrimentos de Cristo são caminho de união com Deus.
A Paixão de Cristo: centro da vida espiritual
São Paulo da Cruz (1694–1775) acreditava profundamente que Deus se dá a conhecer aos homens de forma especial através da Paixão de Jesus Cristo. Para ele, este mistério era a maior prova do amor divino e o caminho mais seguro para a união com Deus. Toda a sua vida espiritual estava centrada na contemplação dos sofrimentos de Cristo.
Paulo considerava a Paixão como “o sinal mais impressionante e a garantia do amor infinito de Deus”. A sua missão era levar todos a meditarem sobre os sofrimentos do Senhor, com o propósito de despertar nos corações amor, compaixão e conversão. Esta convicção levou-o a fundar uma congregação religiosa dedicada exclusivamente à pregação da Paixão, com o objetivo de manter viva esta memória no coração dos fiéis.
As suas palavras sobre a Paixão impressionavam profundamente quem o ouvia. Rosa Calabresi, amiga espiritual, testemunhou que “nunca o ouvi falar da Paixão sem ser interiormente tocada”. Quando pregava sobre este tema, fê-lo sempre com abundância de lágrimas, com o rosto iluminado e com uma força tal que parecia querer gravar a Paixão de Cristo no coração de todos.
O sofrimento como caminho de união com Deus
Após doze anos de consolações espirituais intensas, Paulo da Cruz atravessou cerca de 45 anos de aridez interior. Durante este longo período, viveu sem sinais sensíveis da presença de Deus, num estado de grande secura espiritual. No entanto, permaneceu firme, aceitando este sofrimento como um caminho de purificação e de maior confiança em Deus.
Durante essa fase, Paulo unia-se de modo particular a Jesus abandonado na cruz. Identificava-se com o clamor de Cristo: “Meu Deus, por que me abandonaste?”. Essa identificação deu-lhe força para resistir às tentações de desânimo, frustração e abandono. O segredo da sua perseverança estava na meditação contínua da Paixão e no abandono à vontade de Deus.
Num dos seus escritos, datado de 21 de Dezembro de 1720, Paulo afirmou: “Gostaria que todos compreendessem a grande graça que Deus concede quando envia sofrimentos sem consolações. A alma, sem o saber, torna-se radiante e liberta, pronta para voar para o seu Bem. Já não pensa em tristeza ou alegria, mas apenas em permanecer conforme à santa vontade do seu Esposo amado, Jesus.”
Uma missão de amor: pregar a Paixão
A missão de São Paulo da Cruz foi dar a conhecer o amor de Deus através da Paixão de Cristo. A sua congregação — os Passionistas — nasceu da visão que teve da Virgem Maria, vestida com um hábito preto e um emblema com o nome de Jesus e a cruz. Este hábito, segundo escreveu, deveria recordar continuamente o luto e o amor pelos sofrimentos do Senhor.
A sua vida foi marcada por experiências místicas ligadas à Paixão. Um dia, em segredo, confidenciou que, numa Sexta-feira Santa, Jesus imprimiu no seu coração todos os instrumentos da Paixão e também as dores da Santíssima Virgem. Disse: “Oh, que dores experimentei, oh, que amor! Uma mistura de dor extrema e amor excessivo.” Noutra ocasião, relatou ter sido abraçado pelo Crucificado, que desprendeu um braço da cruz e o envolveu, colocando-o no Seu lado sagrado.
Nos seus escritos espirituais, São Paulo da Cruz rezava com profunda dor e ternura: “Ah, meu Sumo Bem, quais foram os sentimentos do Vosso Coração Sagrado quando fostes flagelado? Como Vos afligiram os meus pecados e a minha ingratidão? Por que não morro de dor? Por que não sou consumido de amor?” Esta contemplação afectiva e dolorosa foi o núcleo da sua espiritualidade e o meio pelo qual esperava levar as almas a Deus.
Para ele, meditar na Paixão não era apenas um acto devocional, mas um verdadeiro caminho de transformação. Na Regra da Congregação escreveu: “Caríssimos, sabei que o principal motivo para usarmos o hábito preto é estarmos vestidos de luto pela Paixão e Morte de Jesus. Por isso, nunca deixemos de ter em nós uma recordação constante e dolorosa d’Ele.” Esta foi a herança espiritual que deixou: um convite à fidelidade amorosa ao Cristo crucificado.
A espiritualidade de São Paulo da Cruz convida-nos a olhar para a cruz com reverência, amor e fidelidade. Meditar na Paixão de Cristo, segundo ele, é abrir o coração à graça, deixar-se transformar pela dor redentora e assumir a missão de proclamar o amor de Deus revelado no Crucificado. Neste caminho, encontramos não apenas o sentido do sofrimento, mas a promessa da ressurreição.
Baseado no artigo do site saintpaulofthecross.com