Ano A – XV Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura: Is 55, 10-11;

Salmo: Sl 64, 10abcd. 10e-11. 12-13. 14;
2ª Leitura: Rom 8, 18-23;
Evangelho: Mt 13, 1-23.

 

Num mundo em que as palavras abundam e onde, cada vez menos, se dá valor à palavra, as leituras deste domingo convidam-nos a reflectir sobre a eficácia e o acolhimento da Palavra de Deus, a palavra por excelência.

A primeira leitura deste domingo do livro de Isaías situa-nos na época do exílio na Babilónia. É no contexto de exílio que o Deutero-Isaías desenvolve a sua missão de consolo e de esperança entre os exilados. Na verdade, a sua mensagem, recolhida no chamado livro da consolação, é de libertação (novo êxodo) e de reconstrução de Jerusalém. É bela a mensagem que o profeta anuncia ao povo que sofre no exílio da Babilónia. No entanto, o povo começa a impacientar-se e a duvidar das promessas de Deus porque o êxodo da Babilónia tarda a concretizar-se. A fé nas promessas de Deus é enfraquecida pela dúvida da eficácia da palavra de Deus.

É neste contexto, que o Deutero-Isaias, quase ao terminar o seu livro da consolação, nos oferece a sugestiva imagem do ciclo da água para mostrar a eficácia da Palavra de Deus. Deus é fiel e cumprirá as suas promessas. Assim como a neve e a chuva não voltam aos céus sem terem fecundado a terra, assim a Palavra de Deus se concretizará porque Deus é fiel as suas promessas.

Muitas vezes, também nós, que vivemos na cultura do imediato, duvidamos da eficácia da Palavra de Deus. Ao tomarmos contacto com a Palavra de Deus sentimo-nos animados e encorajados. As suas promessas são excelentes e respondem àquilo que nós mais desejamos. No entanto, parece que o Senhor se esqueceu de nós e das suas promessas. O tempo passa e parece-nos que as promessas, a Palavra de Deus não se realiza. No entanto, a Palavra de Deus não falha, as promessas de Deus não caem no esquecimento. A palavra de Deus dá-nos ânimo e coragem. Ela não é ópio, não é utopia. A Palavra de Deus é eficaz.

O evangelho deste domingo também nos fala da eficácia da Palavra de Deus. Na verdade, a semente que cai em boa terra não se limita a produzir um por sete que era, na época de Jesus, uma colheita farta, mas produz “umas, cem; outras, sessenta; outras trinta por um”. A semente que cai em boa terra tem uma produção fora do comum e milagrosa.

O evangelho deste domingo é o início do décimo terceiro capítulo de São Mateus. Neste capítulo, o evangelista Mateus oferece-nos sete parábolas de Jesus (semeador, trigo e joio, grão de mostarda, fermento, tesouro escondido, pérola preciosa e rede), conhecidas como as parábolas do reino, que são a revelação de Jesus aos discípulos sobre a realidade do Reino. Mateus ao apresentar estas parábolas de Jesus quer ensinar, exortar, animar e fortalecer a fé dos destinatários do seu evangelho. No entanto, o texto evangélico deste domingo (fórmula longa) não se limita só a parábola propriamente dita do semeador e da semente. O texto de hoje é composto por três partes: a parábola do semeador e da semente (Mt 13, 1-9), uma reflexão sobre a função das parábolas (Mt 13, 10-17) e a explicação da parábola do semeador e da semente. Podemos dizer que o texto evangélico deste domingo é uma boa ilustração daquilo que deve ser a liturgia da Palavra em cada celebração da Eucaristia: proclamação da Palavra (Leituras) e explicação da mensagem proclamada (homília). A homília na celebração da eucaristia, como nos diz a Instrução geral do missal Romano, “deve ser a explanação de algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura ou de algum texto do Ordinário ou do Próprio da Missa do dia.” A primeira parte do evangelho de hoje, como já foi dito, é a parábola do semeador e da semente. O texto começa por afirmar que Jesus proclamou esta parábola sentado. Jesus fala à multidão como mestre comparando o destino da semente ao desenvolvimento do Reino. Mais do que as diferentes formas como a semente é acolhida e que será o aspecto central na explicação da parábola o mais significativo neste texto é a quantidade de fruto que produz a semente que cai em boa terra. A mensagem desta parábola é uma mensagem de esperança. Jesus conta esta parábola numa época de crise onde o anúncio do reino parece condenado ao fracasso. Na verdade, nos capítulos precedentes podemos ver que as cidades de Corazaim, Betsaida e Cafarnaum rejeitaram a sua mensagem e que os fariseus atacavam ferozmente Jesus. Ante um contexto de forte contestação, Jesus afirma que a realidade do Reino é algo imparável e que terá um resultado surpreendente e maravilhoso.

A segunda parte do evangelho deste domingo esclarece-nos a finalidade de Jesus falar em parábolas. As parábolas são uma forma de comparação onde se transmitem, narrativa e simbolicamente, ensinamentos morais e religiosos. As parábolas são a forma privilegiada que Jesus utiliza para transmitir os seus ensinamentos. No entanto, este género literário não foi inventado por Jesus. As parábolas são uma forma de linguagem habitual do médio oriente que prefere instruir através de imagens e comparações do que com discursos racionais.

Ao falar em parábolas Jesus apresenta a realidade do reino de Deus numa linguagem sugestiva tornando essa realidade mais clara para o ouvinte. Assim sendo, depois de ouvir as parábolas só não aceita a mensagem quem tiver o coração endurecido e não quiser mesmo aderir. As parábolas contadas por Jesus são uma ocasião para que se manifeste de uma forma mais clara o acolhimento ou a rejeição da mensagem de Jesus.

A terceira e última parte do evangelho deste domingo é a explicação da parábola do semeador e é um convite a reflectirmos sobre a forma como acolhemos a Palavra de Deus. Na verdade, Mateus recolhe no seu evangelho não só a parábola de Jesus mas também uma explicação homilética dessa parábola para a comunidade cristã. A explicação desta parábola de Jesus chama-nos à atenção para a importância que tem a forma como acolhemos a Palavra de Deus. Com efeito, Deus não prescinde de nós para actuar na história. Se a semente (Palavra de Deus) é boa e se o semeador (Cristo) é competente o fracasso da produção deve-se muitas vezes à qualidade da terra na qual cai a semente.

O evangelho apresenta-nos quatro formas de acolher a semente. A primeira dessas formas é descrita pela imagem da semente que cai no caminho. Refere-se esta imagem à Palavra de Deus que é anunciada a um coração duro, insensível e egoísta. A Palavra de Deus só pode ser acolhida se eu abrir o meu coração. A segunda forma de acolhimento da palavra é descrita pela imagem da semente que cai em terreno rochoso. Refere-se esta imagem àqueles que acolhem com boa vontade a palavra de Deus mas que tem um coração inconstante. Recebem com alegria e entusiasmo no início a palavra de Deus mas quando chegam os momentos mais duros desertam porque são incapazes de suportar as afrontas. A imagem da semente que cai entre os espinhos corresponde à terceira possibilidade de acolhimento da Palavra. Esta imagem refere-se àqueles que tem um coração materialista, refere-se àqueles que abafam a voz de Deus com o desejo de ter, com as vaidades e com as seduções das coisas do mundo. Se estas três formas de acolher a Palavra de Deus são infrutíferas, a quarta forma de acolhimento é aquela que tem uma produtividade excelente. Só é capaz de produzir frutos quem acolher a palavra de Deus em boa terra, ou seja, num coração bom e disponível.

Que a celebração deste domingo nos ajude a tomar consciência da centralidade que a Palavra de Deus tem na nossa vida e da sua eficácia. Saibamos todos nós cuidar do terreno que somos nós retirando dele todos as rochas e espinhos e tornando os caminhos duros em terra fértil. Só acolhendo a semente da Palavra em boa terra é que podemos dar frutos.

P. Nuno Ventura Martins

missionário passionista

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