Começo hoje, antes de tudo, lembrando e agradecendo ao Senhor e aos meus irmãos pela longa vida que vivi neste lugar. Eu vim para aqui, pela primeira vez, notem bem, em 1959, e no Capítulo Geral Extraordinário do qual apenas eu e o Irmão Sérgio (Maino), aqui presente, permanecemos testemunhas. Pelo que me foi dado todos esses anos, gostaria de agradecer ao Senhor!
Passado à liturgia de hoje, gostaria de fazer uma primeira reflexão sobre a experiência de diálogo com o judaísmo que tenho feito há anos. Com efeito, Jesus parece dizer-nos: «Não penseis que vim para formar uma nova religião! Substituir uma religião particular por uma universal”. Jesus é contra esta mentalidade, podemos dizer, iluminista e ideológica. Estamos enraizados em Israel. E Israel vive uma paixão que começa em Adão e chega a Auschwitz e é importante observar o que está a acontecer nos nossos dias. O próprio Jesus nos diz: “Sabeis compreender o tempo em que viveis?”. Mas para aprofundar esse tema, remeto-vos a um livro apresentado recentemente: Teologia de Israel. Teologia dos povos.
Um segundo pensamento, com o qual gostaria de continuar, diz respeito, pelo contrário, à justiça de Deus, de que fala a primeira leitura. Deus, o nosso Deus, é um Deus da Justiça e da Verdade. Vem-me à memória o testemunho de Bento XVI, que dizia que sem justiça e sem verdade caímos no relativismo, num certo benevolência. Por ela, na luta pela vida, mantemo-nos à superfície e descartamos o que julgamos inútil. Mas o próprio Papa Francisco recorda-nos que a cultura do descarte deve ser combatida. Lembrem-se das palavras de Jesus: “O que fizeres ao teu irmão, a mim o fareis!” Portanto, Deus é um Deus de justiça e verdade; porque um Deus sem justiça e sem verdade não é o Deus de Abraão, de Jacob, de Jesus, de Maria, dos apóstolos, dos santos e de São Paulo da Cruz, mas é um ídolo! Até o Papa nos adverte que se pode ser um bispo, um monge ou monja e adorar um ídolo! Que terrível! Eu, que poderia comparecer perante o tribunal de Deus a qualquer momento, tremo com este pensamento; correndo o risco de ter sido um idólatra durante toda a minha vida, um idólatra de mim mesmo acima de tudo. Portanto, diante desta realidade, da deriva do Deus da justiça e da verdade com o risco do relativismo e do modernismo, é preciso reiterar a necessidade de sermos testemunhas. Além de alguns atos penitenciais, é urgente colocar-se em atitude penitencial, em atitude de escuta para um esclarecimento. Geralmente é-se cego, assim como aqueles que diziam: “nós temos Abraão, nós temos Isaac, nós temos Moisés” eram cegos e não reconheceram Jesus Cristo. E nós temos Jesus Cristo? Reconhecemo-l’O? Como reconhecemos Deus? É necessário um coração aberto, porque sem um coração reto e aberto, o caminho de Deus se desvia. Sem um coração aberto, Deus não está contigo, mesmo que se passe o dia todo na Igreja. Como os sacerdotes que passavam o dia inteiro no Templo e não reconheciam a Cristo. Ou como o rei David que pensou em esconder o seu pecado com Betsabé e diz para consigo: “Tu és esse homem!” A grandeza de David está no seu arrependimento! Não tanto em não cometer pecados, mas em arrepender-se, saber pedir desculpas de coração aberto. Nós, Passionistas, devemos ser mestres nisso. Devemos garantir que a Cruz não seja esvaziada, mas mantida na sua realidade! Mestres em pedir luz no mal, em não se deixar cegar.
A cegueira (da qual fala São Paulo) não é só de quem não conheceu a Cristo, mas pode dizer respeito a cada um de nós. Contra essas cegueiras é indispensável uma atitude penitencial ordinária, assim como um testemunho para as gerações futuras. Tudo isso com confiança porque a misericórdia do Senhor está acima de nós. Concluo, portanto, invocando a misericórdia de Deus sobre todos nós com esta Eucaristia, para cura e libertação de todo mal e de todo poder do Maligno.
